Uma peculiaridade da narrativa da criação é a oposição às cosmogonias e teologias do Antigo Oriente Próximo. As divindades criam, mediante o conflito, a guerra, o uso da força. Em Gênesis, Yahweh cria através da sua palavra. O sol e a lua são divindades no panteão egípcio e mesopotâmico. Em Gênesis, o sol e a lua não são sequer nomeados: são substituídos pela expressão genérica me'ōrōt [luminares].
O termo hebraico šémeš [sol] está oculto em Gênesis 1 porque no Mundo Antigo o sol era considerado uma divindade. No Egito, o sol é Re, o deus supremo. Em Êxodo, a nona praga enviada contra o Egito mostra uma disputa direta entre o Yahweh e Re, disputa vencida pelo Deus de Israel, que eliminou a luz do sol através da escuridão espessa. Jeremias, ao pronunciar o julgamento vindouro sobre o Egito, afirmou que iria "quebrar os obeliscos de Heliópolis", monumentos de pedra erguidos para o deus sol (Jeremias 43.13; Ezequiel 32.7). Na Mesopotâmia, o sol era o deus da justiça. Em Israel a adoração do sol era estritamente proibida (Deuteronômio 4.19). Gênesis 1.14-19 mostra que o sol deve a sua existência somente a Deus, e a supressão do seu nome aliada à sua descrição meramente funcional no universo cósmico é, de alguma forma, um relato indireto da supressão de qualquer afirmação de sua divindade.
O termo yārēḥ [lua] também é suprimido. A lua foi o principal deus adorado em Ur, no sul da Babilônia, e em Harā, no noroeste da Mesopotâmia. A lua era associada no Antigo Oriente Próximo à ordem e à sabedoria. Ambas as cidades, Ur e Hară, estavam relacionadas à vida de Abraão. Deuteronômio 17.3-5 punem a adoração à lua com a lapidação (Deuteronômio 17.3-5).
A Torah Comentada (Brian Kibuuka, p. 109,110)
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