Gênesis 1.1
Ao menos dois problemas se formam em torno de Gênesis 1.1: como o versículo deve ser traduzido e qual a sua relação com 1.2 e 1.3 - 3.1. Em primeiro lugar, como o versículo deveria ser traduzido? Existem duas possibilidades. Uma é tratar o versículo 1 como uma sentença temporal e dependente. Então, poderia ser: "Quando Deus começou a criar os céus e a terra" ou “No princípio, quando Deus fez o céu e a terra”.
Modernamente, essa é a compreensão mais utilizada desde a tradução de Moffat em 1922. Vemos seus reflexos nas traduções mais recentes, como na versão da Bíblia judaica da New Jewish Publication Society, na New English Bible, na tradução de Gênesis feita por E. A. Speiser nos comentários Archor Bible e na New Revised Standard Version. Um possível respaldo a essa tradução aparece em 2.4b, que começa com “no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus”, seguida por uma descrição de desolação (2. 5,6) e, então, do primeiro ato criativo de Deus (2.7).
As traduções mais tradicionais apresentam Gênesis 1.1 como uma sentença independente: "No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Podemos ver essa tendência na versão King James, na Revised Standard, New American Estandard Bible, na Nova Versão Internacional e na Bíblia de Jerusalém.
No caso de seguirmos a primeira possibilidade, considerando 1.1 como um parágrafo dependente, teremos de concluir que o versículo 2 é um comentário à parte, separado do que vem antes ou depois, com o versículo 1 continuando no versículo 3: “E disse Deus…” O resultado seria uma sentença curiosamente longa e confusa, o que não chega a ser inadmissível, mas fica de todo descolado nesse capítulo, como se fora um enxerto em meio a uma sequência de frases curtas.
No que diz respeito aos originais, o problema da tradução surge logo na primeira palavra da Bíblia, bereshit (King James, Revised Standard: “No princípio”; New English, New Jewish: “Quando”).
No hebraico bíblico, os termos são classificados, em termos de sintaxe, em estado de construto ou estado absoluto. Na frase “palavra do Senhor”, por exemplo, “palavra” é um exemplo de construto, pois seu sentido depende das palavras seguintes: “do Senhor”. Uma palavra no construto, via de regra, não é acompanhada por um artigo definido, embora isso possa ocorrer na tradução a fim de deixar o texto fluido. Por outro lado, “Senhor”, no absoluto, independe e possui um significado isolado. A questão é a seguinte: bereshit está no construto ou absoluto? Se estiver no absoluto, Gênesis 1.1 é uma parágrafo independente; se estiver no construto, Gênesis 1 depende dos versículos posteriores.
O termo Bereshit está no absoluto, pois ele não necessita do artigo. Podemos achar mais argumentos a favor disso no verbo empregado pelo escritor em 1.1: barah. Duas coisas podem ser ditas a respeito dele. Em primeiro lugar, o sujeito de barah é sempre Deus; portanto, tal atividade é sempre divina. Em segundo lugar, sempe que esse verbo é utilizado, o objeto direto é sempre o produto criado, e nunca o material utilizado na criação. O mundo é resultado de uma criação, não da reformulação de material já existente.
Existem duas principais visões sobre os relatos da criação:
Vs Teoria 1
1 Criação
original
2 Uma lacuna,
um intervalo
indeterminado
de tempo - a
terra tornara-se
sem forma e vazia
(talvez por causa
da expulsão de
Satanás dos céus?!)
3 O segundo ato de
criação de Deus
ou o ato divino
da recriação.
Vs Teoria 2
1 Criação
original
forma e vazia, em
trevas e com o
Espírito de Deus
se movendo sobre
as águas.
3 Imposição gradual
de ordem e simetria
sobre um cosmos
informe; um
movimento da
imperfeição para
a perfeição,
da incompletude
para a completude.
Manual do Pentateuco (Victor P. Hamilton, p. 30, 31, 32, 33).
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